sábado, 26 de fevereiro de 2011

“A Tecnologia no despertar do interesse pelo aprendizado” “Uma visão interacionista”

Devido à grande dificuldade em manter a atenção dos alunos com as metodologias tradicionais, pesquisar sobre como aplicar a informática no processo de ensinar e aprender pode ajudar a desenvolver metodologias modernas que possam despertar o interesse dos alunos de hoje pelo aprendizado de novos conhecimentos e competências.

Percebemos que a tecnologia consegue “prender” a atenção de grande parte dos alunos, associá-la ao aprendizado permite explorar essa facilidade e interação oferecida durante o trabalho em sala de aula ou no consultório psicopedagógico.

A TEORIA INTERACIONISTA

O interacionismo é a teoria que afirma que o desenvolvimento intelectual é determinado pela relação do sujeito com o meio. O ser humano interage com o meio ambiente respondendo aos estímulos externos, analisando, organizando e construindo seu conhecimento a partir do “erro”, através de um processo contínuo de fazer e refazer. Podemos empregar o termo construtivismo como sinônimo de interacionismo, uma vez que existe a “construção” do conhecimento: a verdadeira aprendizagem.

A proposta construtivista apresenta objetivos a serem alcançados, entre eles a autonomia do sujeito que pressupõe a capacidade de transformar, de tomar decisões próprias, de buscar novas soluções para os problemas que enfrenta, pela coordenação interna de seu ponto de vista com as demais pessoas envolvidas no diversos processos decisórios. Existem dois tipos de autonomia: intelectual e moral. A autonomia intelectual é a capacidade de exprimir suas idéias e defendê-las, mas com a consciência da necessidade de modificar suas idéias em favor de outras mais novas e abrangentes. A autonomia moral é a capacidade que a pessoa tem de modificar seu julgamento e normas sociais, decidindo pele que é melhor para si e para seu grupo, sem desconsiderar a legalidade das leis vigentes no país.

A proposta construtivista não é sinônimo de espontaneísmo (algo que ocorre ao acaso), o conhecimento é construído de maneira espontânea, isto é, independente do ensino. É preciso o querer fazer.

  • Acredita que o conhecimento é (re) construído de forma reflexiva e na interação ativa com o meio;
  • Defende que o conhecimento está em constante reconstrução, não sendo estático à forma como se apresenta em um dado momento;
  • Respeita a produção da criança;
  • Defende a organização de espaços propícios para acriança testar suas hipóteses;
  • Sugere o trabalho em grupo para facilitar o aprendizado;
  • O papel do professor é de mediador da aprendizagem;
  • A meta maior da educação é a autonomia;
  • A avaliação é considerada um processo e não um produto de aprendizagem.

TECNOLOGIA E PSICOPEDAGOGIA

A psicopedagogia tem como objeto de estudo os problemas de aprendizagem; identificar e utilizar novos meios que possam facilitar a interação do ser humano com o meio podem proporcionar opções mais eficazes na sua prática, tanto no diagnóstico como no tratamento.

A autora Maria Lúcia L. Weiss (2004), apresenta três exemplos de utilização da tecnologia como mais um recurso no processo diagnóstico. No entanto salienta que isso exige um mínimo de conhecimento, habilidade e oportunidade no uso e o aperfeiçoamento na observação da conduta do sujeito. O computador poderá ser bem utilizado nas sessões lúdicas centradas na aprendizagem e/ou no momento da avaliação pedagógica (leitura, produção de texto e matemática) e assim, obter dados sobre o funcionamento cognitivo e emocional e as condições pedagógicas do sujeito.

A autora relata também ser importante não dar ao uso do computador qualquer conotação pedagógica ou escolar, propor o trabalho de forma lúdica, como desafios e jogos. A mesma apresenta o computador como necessário para compor um consultório psicopedagógico, incluindo recursos como: multimídia microfone e acesso à internet. O seu uso deve ser complementado com scanner e a impressora colorida. È importante instalar algum tipo de editor de texto e editor gráfico. Através das situações problemáticas surgidas durante o uso do computador é possível observar sobre o sujeito (Weiss, 2004):

  • Níveis de solução de problemas;
  • A forma e o estilo dele enfrentar situações novas;
  • A lógica usada na busca de uma solução;
  • O nível de atenção e o foco na tarefa;
  • A memorização de comandos novos e das seqüências funcionais;
  • O percurso que faz errado e como elimina o erro;
  • O grau de persistência nas tentativas;
  • O erro paralisante e o erro como estímulo para buscar novos caminhos;
  • A aceitação ou rejeição das atividades propostas;
  • O desejo e a determinação em produzir;
  • As ansiedades e medos diante da tarefa proposta;
  • O processo decisório, de escolha (o tempo e a forma: aleatória ou refletida);
  • A exploração, ou não, das possibilidades do software;
  • Os desenhos selecionados, os abandonados e os rejeitados;
  • Os cenários e personagens escolhidos, modificados e rejeitados;
  • O nível de resistência à frustração e
  • Como lida com o sucesso ou o fracasso.

Segundo a opinião da autora (Weiss, 2004), torna-se fundamental a compreensão da função da tecnologia no desenvolvimento e enriquecimento do pensamento de crianças e adolescentes, assim como o entendimento do funcionamento afetivo que está articulado com esse processo.
A Revista Pró-Teste (maio de 2006) relata a utilização do computador como auxiliar no acompanhamento e desenvolvimento do portador de Síndrome de Down por despertar o interesse. Seu manuseio exige o controle das mãos e estimula a capacidade de observação e de atenção. O computador apresenta sempre a mesma resposta a uma determinada ação, o que leva o portador a interiorizar a relação causa-efeito.

Segundo Litto (1996), “A sociedade mudou muito nas últimas décadas, mas a educação formal continua essencialmente inalterada: continuamos a confundir um amontoado de fatos com o conhecimento; a ignorar os estilos individuais de aprendizagem de cada aluno; a exigir uso apenas de memorização e não de capacitações cognitivas de alta ordem, como interpretação, julgamento e decisão; a exigir ”respostas corretas”, quando o que realmente importante é saber achar a informação necessária, na hora certa, para tomar uma decisão e saber fazer as perguntas certas”.

A atuação do professor à frente da turma como único detentor do saber precisa ser substituído pela utilização de mídias variadas, localmente e à distância e por material destinado à auto-instrução. Esse material somado ao livro e a outros materiais impressos serão as detentoras de informação, o professor fará o papel de facilitados, orientando seus alunos.



RELATO DE PRÁTICAS UTILIZADAS

Usar o computador na escola contribui para o aprendizado das matérias estudadas em sala de aula. Vários educadores concordam com isso e apresentam experiências com resultados positivos.

A professora de informática Priscila Lange de Oliveira, da Escola Municipal Eurico Gaspar Dutra, acredita que a tecnologia facilita a compreensão. “O computador permite a revisão das atividades. Os alunos podem explorar e experimentar”.

De acordo com Luciana dos Reis Martins, coordenadora pedagógica do Colégio Interlagos, o trabalho da informática é acrescentar outros dados nas atividades. “Deve funcionar como uma ferramenta complementar às tarefas de classe”.

A atividade proposta deve estar de acordo com a faixa etária da classe. Para os pequenos, programas que contribuam para a alfabetização e para o desenvolvimento do raciocínio lógico são ideais. Os adolescentes devem ser estimulados com trabalhos de pesquisa na internet. “O educador deve estabelecer objetivos e a forma do projeto”, propõe Luciana.

No depoimento de Juliana Piauí à revista Nova Escola (nº 186, p. 52), é relatado que: “A tecnologia é um bicho-de-sete-cabeças para muitos professores. Em contrapartida, vejo crianças de cinco anos na frente de um computador dando um baile nos adultos. [...] A tecnologia pode sim, aproximar as pessoas e nunca vai substituir o professor”. Juliana trabalha na biblioteca do Projeto Casulo, ONG em São Paulo.

Ao longo dos meus dezesseis anos atuando como professora, também apliquei projetos que utilizavam o computador como uma ferramenta pedagógica de muita eficiência. Em Estatística, por exemplo, proponho que os alunos escolham uma linha de pesquisa, elaborem fichas de levantamento de dados e realizem a mesma efetivamente, sempre mantendo como referência à escolha pelo próprio aluno do assunto de desperte o seu interesse. Após esse processo inicial, eles tabulam os resultados em sala de aula e constroem tabelas e gráficos no editor de planilhas eletrônicas. Finalizamos com a troca, cada aluno apresenta o que fez e como fez.

O interacionismo proporcionado resulta sempre em sucesso, a atividade é uma forma de avaliação excelente, já que antes os alunos receberam o conteúdo teórico e, ao longo das tarefas, a teoria foi retomada sempre que necessário.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No processo de ensinar e aprender, associar a teoria com sua aplicação direta através da tecnologia faz com que os alunos despertem a curiosidade pelos conteúdos estudados e desenvolvam competências necessárias para sua vida como cidadão produtivo, empreendedor, responsável socialmente e com a auto-estima elevada.

A forma como os alunos se sentem parte do processo de ensinar e aprender, proporcionam um “conforto” com o aprendizado e ajuda a criar um vínculo afetivo entre os participantes desta relação muitas vezes desgastada pela falta de novas propostas interessantes e estimulantes.

O computador deve ser aplicado como uma ferramenta a mais, à disposição do professor para compor um processo completo, proporcionando fases anteriores ao seu uso, o que evita que a aluno enxergue essa ferramenta como substituto de outras atividades importantes como: consultar livros, revistas, jornais, dicionários, visitas de estudo, entrevistas e pesquisas de campo.

A valiosa experiência que obtive com a utilização do computador como ferramenta pedagógica e interacionista; e os trabalhos multidisciplinares sempre me ajudaram a lidar com turmas indisciplinadas e alunos com dificuldades de aprendizagem. A utilização de ferramentas tecnológicas aliadas a novas metodologias pedagógicas que considerem o “sujeito que ensina”, “o sujeito que aprende” e seu contexto, podem reduzir as dificuldades na construção do saber.

O estudo aqui apresentado apenas inicia uma nova abordagem para a utilização da tecnologia na construção do conhecimento e competências, não pretendo supor que somente estas páginas sejam suficientes para encerrar o assunto. Continuarei a experimentação, vivência como docente e nova pesquisa no intuito de “aprender a ensinar a aprender”.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Livros:

DELGADO, Evaldo Inácio. Pilares do interacionismo: Piaget, Vygotsky, Wallon e Ferreiro. 1ª ed. São Paulo: Editora Érica, 2003.
DOCKTERMAN, David A. Great teaching in the one computer classroom. Cambridge, Massachusets: Tom Snyder Productions, 1991.
FERREIRA, Aurélio B. de Holanda. Mini Aurélio: o minidicionário da língua portuguesa. 4ª ed. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2000.
GALVÃO, I. Uma reflexão sobre o pensamento pedagógico de Henri Wallon. In: Cadernos de idéias. Construtivismo em revista. São Paulo: F.D.E., 1993.
GARDNER, H. Inteligências: um conceito reformulado. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000.
LA TAILLE, Y. de & OLIVEIRA, M. K. De & DANTAS, H. Piaget, Vygotsky e Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. 10 ed. São Paulo: Summus, 1992. p. 117.

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